Com que roupa

Noel Rosa

A música “Com que roupa” foi o primeiro sucesso de Noel Rosa. Um sucesso enorme que inspirou anúncios comerciais, paródias, charges, crônicas, entrevistas e até ajudou a fixar a expressão “com que roupa” como dito popular (ouça adiante!).

Um verdadeiro achado, essa expressão se repete ao final de cada estrofe da composição, sendo uma das razões principais de seu êxito. Tudo indica, porém, que Noel não percebeu de início o potencial de “Com que roupa”, pois, além de mantê-la inédita por um ano, vendeu-lhe os direitos pela quantia de 180 mil-réis, irrisória já na época.

Segundo seus biógrafos, João Máximo e Carlos Didier, Noel confessou certa vez a um tio que “Com que roupa” retratava de forma metafórica o Brasil – “um Brasil de tanga, pobre e maltrapilho”. Daí, talvez, a semelhança de seus compassos iniciais com os do Hino Nacional Brasileiro (problema corrigido pelo músico Homero Dornelas ao passar a melodia para a pauta).

Extraído de http://cifrantiga3.blogspot.com.br

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Depoimentos do compositor Noel Rosa sobre a música “Com que roupa?” , publicados em jornais do Rio de Janeiro.

Diário de Notícia, 15/02/1931

“… quando fiz “Com que roupa?” não tive em mira fazer alusão ao povo, que, apesar de tudo, sei que ainda tem roupa e faço votos que continue a tê-la em profusão e que não lhe falte roupa, e muita, para brincar o carnaval. ‘Com que roupa?’ é uma pergunta que se aplica a diversos casos. Por exemplo, se um camarada está sem dinheiro e alguém o convida para um baile ou uma festa qualquer, ele retruca, com um gesto significativo: ‘Com que roupa?’ (isto é, com que dinheiro). Se precisa resolver qualquer assunto intrincado, sem descobrir os meios para tal, recorre ainda à mesma interrogação: ‘Com que roupa?’ Aí está.”

Jornal de Rádio, 01/01/1935

“…”Com que roupa?” tem uma história interessantíssima que vale a pena contar aqui, a título de curiosidade. Foi um caso que se passou comigo mesmo. Com sangue de boêmio, eu passei a chegar em casa, em determinada época, a altas horas da noite. Vindo de festas ou de serenatas, ou de simples conversas. Mas o fato é que essa vida, passada toda em claro, devia prejudicar a minha saúde. Foi o que aconteceu. Mas quem mais se assustava era mamãe. Pressentiu, antes que ninguém, o meu estado. E dia a dia renovava as suas advertências, os apelos, para que não me demorasse na rua tanto tempo, para que dormisse mais, que eu acabava doente. Eu prometia que sim. Mas a minha vontade era nula. Chegava fatalmente às mesmas horas com as mesmas olheiras e com aquele emagrecimento progressivo, que estava alarmando todo mundo. Desesperada de não conseguir pelos recursos da persuasão, minha mãe lembrou-se de um antigo recurso, mas cujo efeito é sempre eficaz. Assim é que escondeu todas as minhas roupas. Sem exceção. Fiquei desesperado. O pior é que, na véspera, mandara que alguns amigos viessem me buscar para irmos a uma festa. Os amigos não faltaram. À noite, batiam lá em casa: ‘Como é, Noel, vamos para o baile?’ E eu, dentro do meu quarto: ‘Mas com que roupa?’ Mal eu tinha acabado de soltar a frase, e ocorreu a inspiração de fazer um samba com o tema. Daí o estribilho: ‘Com que roupa eu vou / Ao samba que você me convidou?’.”

Extraído de https://www.escrevendoofuturo.org.br

Noel Rosa & Coro(1930)

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