Trem das onze
“A singeleza quase ridícula do episódio — um indivíduo, filho único, tem que interromper um encontro amoroso para não perder o último trem, pois sua mãe não dorme enquanto ele não chegar —, cantado de forma patética nos versos de Adoniran Barbosa, é a razão principal da popularidade de “Trem das Onze”.
O dilema do suburbano de Jaçanã comoveu não somente os paulistanos, mas o público de todo o país, fazendo deste samba um grande sucesso, inclusive invadindo o carnaval carioca de 65, para o qual não fora destinado. Contribuiu também para este sucesso a interpretação dos Demônios da Garoa (ouça adiante!), absolutamente identificada com o motivo da composição, tanto assim que “Trem das Onze” se tornou peça obrigatória em suas apresentações.
Incluída na letra para rimar com “manhã”, Jaçanã tem pouco a ver com a vida de Adoniran. Apenas, ao final dos anos cinquenta, ele fez uma temporada no “Circo do Batista”, lá estacionado, onde interpretava personagens do programa radiofônico “História das Malocas”, na ocasião muito em evidência. Mas, se andou de trem, deve ter sido no das sete, para não atrasar o espetáculo. A propósito, o ramal que servia a Jaçanã foi extinto pouco tempo depois .(A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
Extraído de http://cifrantiga3.blogspot.com.br
Demonios da Garoa(1964)
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O outro lado do Trem das Onze
Eu tenho amigos muito talentosos e detesto ver um bom texto desperdiçado em um post passageiro do facebook. O Wonder Bettin comenta um clássico da música popular brasileira em um novo tom. Afinal, quem nunca arrumou uma desculpa para fugir da cena do crime e ir dormir tranquilo em casa?
“Um dos primeiros contatos com São Paulo, vindo de carro de Belo Horizonte – que 600 quilômetros suados! – é o bairro de Jaçanã. Aquele do Adoniran. Aquele do migué.
Porque “Trem das Onze” é um migué, você já percebeu? É sobre o sujeito sexualmente recém satisfeito, e de sentimento intocado. É a vontade súbita de sumir com elegância depois da foda. É um modus operandi.
“Me desculpe, amor. Se eu perder esse trem…” foi a conversinha que ocorreu ao nosso amigo ali na hora. O resto são pinceladas sobre o mesmo quadro – tenho casa, minha mãe não dorme – mas que podem chegar à beira da chacota.
Sim, porque experimente falar agora, daí da sua cadeira e em voz alta, uma frase banal, “sou filho único”. Esse argumento bizarro é o expoente da argumentação. E ele foi colocado sobre o Ré menor, um malandro Ré menor, que chega após o tom maior de explicação (E além disso, mulher…), após a dramaticidade diminuta de “minha mãe não dorme”, e logo após a GRANDE PREPARAÇÃO para o ápice: o Mi com sétima de “enquanto eu não chegaaaar.” E o que é que chega? Sou filho único. Pfff. Sobre o tal ré menor que devolve a música ao tom original e faz tudo parecer fazer sentido. Depois disso vai embora esse gênio da mentira, em nem mais de um minutinho.
Claro que ele não poderia deixar, já na rua, sob o luar, de dar uma imensa gargalhada sobre a mentira bem contada. Quais quais quais quais, enquanto caminha, pro Bixiga ou pro Brás, encontrar um amigo ou outra namorada.
Mas, querido gênio Adoniran, esse texto não te julga. Quem nunca?”
Texto de Janara Lopes em 14.04.2014
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Demônios da Garoa
Verdadeiro cartão-postal sonoro da capital paulista, “Trem das Onze” foi composta em fins dos anos de 1950, mas ficou esquecida por cinco anos. Não fosse o produtor Braz Baccarin, da extinta Continental, provavelmente esse samba jamais fosse gravado – e só o foi por imposição dele, que queria que o grupo, que estava em baixa, voltasse ao mercado com um disco recheado de músicas de Adoniran, de preferência inéditas. Ao remexer a gaveta, o fundador Arnaldo Rosa se deu conta do esquecimento. Arranjada às pressas, foi gravada numa madrugada de julho de 1964 e lançada em agosto do mesmo ano. Todo mundo conhece a saga do rapaz que mora no Jaçanã e não pode perder o trem.
Texto de Assis Angelo
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