Bilhete
Uma coisa salta aos olhos: foi Doris Monteiro quem lançou várias das canções que conhecemos hoje, sucessos absolutos de… outras cantoras. Exemplos. “Eu hein, Rosa!” foi lançado por Doris três anos antes da gravação de Elis Regina. “Até quem sabe?”, um ano antes de Gal Costa incluí-la no LP Cantar [1974]. E “Diz que fui por aí”, lado a lado ao registro de Nara Leão – ambos são do mesmo ano.
“São lançamentos de Doris Monteiro regravados por outras cantoras. É só ver o ano dessas gravações nos meus discos. Eu fiz tudo antes. Por aí você vê que eu tenho bom gosto: as cantoras procuravam no meu repertório coisas para gravar”, alfineta uma orgulhosa Doris Monteiro. Pode alfinetar, argumento para isso ela tem de sobra.
Você lançou músicas que depois fariam muito mais sucesso com outras cantoras do que na sua gravação original. Isso te dava muita raiva?
Pois é, as pessoas gravaram sempre depois de mim. “Vou deitar e rolar [Quaquaraquaquá]” foi outra que eu lancei antes da Elis. E músicas de Fernando César, Sidney Miller, Silvio César, Sueli Costa… tudo antes de todas as outras cantoras.
Eu gravei “Bilhete” antes da Fafá de Belém (ouça adiante!). Não sei se foi coincidência, mas a Fafá foi ver o show onde eu cantava isso umas cinco, seis vezes. Em seguida, lançou a música numa novela exatamente como eu fazia: com piano e voz (Confira em ‘Qual Delas ?’). É coincidência demais, não acha? Isso tem que ser comentado. As pessoas têm que saber que a gente fez aquilo antes e a Globo preferiu gravar de novo com outra pessoa para botar na novela. O porquê disso eu não sei, se me perguntarem.
Extraído de http://sambaesquemanosso.blogspot.com.br/
Doris Monteiro(1981)
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A cronologia dos fatos, para melhor entender a narrativa de Doris Monteiro com relação a “Bilhete”: Quem primeiro gravou foi o autor, Ivan Lins em 1980 (ouça adiante!) e no mesmo ano, o MPB4. No ano seguinte, 1981, Doris gravou e, depois foi que veio a de Fafá de Belém.
Ivan Lins(1980)
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Amigos,
“Bilhete” foi composta em dezembro de 1979, em Teresópolis, em nossa ex-casa, no Ingá.
Eu e meu letrista e amigo Vitor já estávamos tentando fazer uma canção fazia dias e nada.
O clima começou a ficar desagradável. Começamos a nos estranhar.
Eis que nossa empregada, Dona Carmelita, reparando a situação, veio a nós e nos recomendou uma rezadeira que ela conhecia, chamada (pasmem) Madalena.
Fomos lá. Era numa pequena favela (hoje grande), no Caxangá. Subimos e chegamos à casinha dela. Dona Madalena era uma senhora branca, tipo nórdica, cabelos desgrenhados e simpática. Dona Carmelita explicou a ela que nós precisávamos de uns passes.
Aí ela foi para um canto e se concentrou e de repente estremeceu toda e recebeu uma entidade. Pegou um caderno e começou a escrever rabiscos nervosos, páginas e páginas, numa velocidade incrível, quando acabou, voltou para o canto, estremeceu de novo e voltou ao que era, e passou a traduzir a rabiscada toda: MAL OLHADO, INVEJA BRABA.
Virou-se para Vitor e disse pra ele acender uma vela numa pedra na beira de um rio e dedicar a uma entidade tal. Virou-se para mim também e disse para eu acender uma vela num descampado e dedicar a uma outra entidade. Já eram umas 20h da noite. Saímos de lá e Vitor logo achou o rio e acendeu a sua vela. Demorei a achar um descampado. Peguei minha vela, acendi e vi que não tinha pavio.
Saímos atrás de outra vela, era domingo, tudo fechado. Acabei ganhando uma vela numa padaria.
Voltei ao descampado e acendi, dedicando a tal entidade. Voltamos para casa.
Dia seguinte, à tarde, minha sobrinha Heliane atende a um telefonema e vem me chamar dizendo que era um tal de Bíblia ou coisa parecida. Atendi e era o Quincy Jones, dizendo maravilhas de minhas músicas e nos convidando para Los Angeles, para saber o que ele estava preparando para nossas canções.
Minha carreira internacional começou ali.
Claro que no dia seguinte já estávamos inspiradíssimos e a primeira que saiu foi “Bilhete”.
Fiquei meio assustado com o tema, dizendo pra mim mesmo que nunca gostaria de cantar aquilo.
A inspiração não ficou só nisso. Fizemos mais umas 3 canções, entre elas “Atrevida”, que Simone e Isabella Taviani gravaram.
Canções femininas. Acho que a entidade do Vitor era uma mulher.
Gravei “Bilhete” no disco “Novo Tempo” de 1980. Ano seguinte Fafá de Belém grava e estoura a música nas paradas, com um arranjo belíssimo de César Camargo Mariano.
Dois anos depois ganhei meu “Bilhete”. O que eu temia aconteceu.
Fazer o quê?
Beijos,
Ivan
Extraído da página de Ivan Lins no Facebook
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