Bom dia, tristeza
“Bom dia, tristeza”, lançado pela Continental em maio-junho de 1957 sob número 17437-B, matriz 11947. E a música tem uma história bem interessante: os versos, de autoria do poetinha Vinícius de Moraes, foram enviados por ele de Paris (ele trabalhava na embaixada brasileira na França), por correio, a Aracy de Almeida, a fim de que ela fizesse o que bem entendesse com eles. Aracy, então colega de Adoniran Barbosa na Rádio e Televisão Record de São Paulo, solicitou então a ele que os musicasse. Mestre Adoniran desincumbiu-se plenamente da tarefa, e o resultado foi mais uma página antológica de seu trabalho autoral (ouça adiante!)
Extraído de Samuel Machado Filho
Aracy de Almeida(1957)
X.X.X.X.X
Belos Poemas Que Viraram Músicas. “Bom dia, tristeza”.
No final da década de 1950, uma parceria improvável na música brasileira resultou em uma memorável obra. Vinícius de Moraes sequer conhecia Adoniran Barbosa, mas um desses felizes acasos da vida iria nos presentear com “Bom dia, tristeza”, uma bela música interpretada por grandes nomes da MPB, como Maysa, Chico Buarque, Elis Regina, Altemar Dutra, Aracy de Almeida, Roberto Ribeiro, Jair Rodrigues, Elizeth Cardoso, dentre tantos outros (confira em ‘O tempo não apagou’).
Os versos foram escritos pelo poetinha a pedido de Aracy de Almeida, em 1957. Há, contudo, diversas versões para a gênese da poesia. Uns afirmam que teria sido escrita em Paris, outros dizem que foi em um bar, no Rio de Janeiro, o texto teria sido em um guardanapo. Todos afirmam, entretanto, que a letra foi entregue a Aracy, após o poeta ter dito que ela fizesse o que quisesse com o poema. O certo é que Aracy entregou a obra para Adoniran Barbosa, seu velho amigo, que colocou a música. Dessa forma, um poema mais adequado ao estilo de Antônio Maria, amigo comum de Vinícius e de Aracy, terminou, surpreendentemente, nas mão de um sambista da cidade que o poetinha – numa escorregada retórica que o levou a se penitenciar por um bom tempo – chamaria de “túmulo do samba”.
Embora a música tenha tido uma grande repercussão, Vinícius pouco falou sobre seu poema, a maioria dos registros da história da extraordinária parceria foi feita por Adoniran. O mais famoso relato foi durante uma divertida entrevista dada a Elis Regina, em 1965, no famoso programa “O Fino da Bossa”, apresentado na TV Record, veja a transcrição de um trecho da conversa do sambista paulista.
“Elis: Como é que você se tornou parceiro de Vinicius de Moraes sem sequer conhecê-lo?
Adoniran: Fácil, é fácil, fácil. A Aracy de Almeida, que é muito amiga dele (ele estava em Paris nessa ocasião, na UNESCO) recebeu uma carta dele e dentro da carta veio assim essa letra, dois versinhos, e dizia embaixo “Aracy, faça o que você quiser com esses versos”.
Elis: Então a Aracy pegou e deu pra você.
Adoniran: Então eu tava pertinho dela, não é? E ela era ligação minha, não é? Ela disse “Ô, Adoniran, bota a música aí”.
Elis: Quer dizer que a letra é de Vinicius de Moraes e a melodia é que é sua.
Adoniran: A letra é de Vinicius e a musiquinha é minha.
Elis, por sinal, cantou a música na ocasião, utilizando recursos vocais bem diferente do seu estilo, mas parecido com o da sua desafeta, Maysa (ouça adiante!).
Em “Boa dia, tristeza”, Vinícius, na sua genialidade, transforma o sentimento em uma espécie de ser animado, prosopopeia para transmutar a tristeza em uma amiga confidente a quem não via há um bom tempo. Para a “amiga”, quem sabe amargurado por uma das suas infelicidades momentâneas decorrentes de mais um dos vários rompimento amoroso ou mesmo a procura de uma maior proximidade com a tristeza – talvez a maior das inspiradoras dos poetas – trava, entre uma e outra dose, um comovente diálogo. Nesse interessante reencontro, o poeta, ao final do verso, confessa suas amarguras, usando figuras de linguagens de rara beleza, recolocando a interlocutora em seu devido lugar – “Chorar de tristeza, tristeza de amar”.
Adoniran, por sua vez, parece ter entendido o sentimento do poetinha e, com rara felicidade, colocou uma música em ritmo melódico mais do que adequado ao tema – triste, melancólica, bem ao tradicional estilo dos sambas-canções de dor de cotovelo bastante populares à época.
Extraído de http://www.drzem.com.br/
Elis Regina recebe Adoniran Barbosa – Programa “O Fino da bossa”, TV Record 1965
X.X.X.X.X
No programa “Brasil Sonoro” levado ao ar no dia 6/08/2016, pela E-Paraná – 97,1 FM e 630 AM, a canção “Bom dia, tristeza” foi por nós lembrada no quadro ‘QUAL DELAS ?’, data em que se comemorava 106 anos do nascimento de Adoniran Barbosa (ouça adiante!).
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