Café soçaite
Jorge Veiga, o príncipe plebeu, o malandro elegante. Se memória há, a que restou desse cantor tão singular, de grande sucesso nos anos 40 e 50, é a que foi criada a partir de “Café soçaite”, grande sucesso em compacto 78rpm que rendeu em seguida um LP inteiro na mesma linha. Depois de 1955, Jorge Veiga fez-se “soçaite” e ganhou o epíteto “o caricaturista do samba”, assim batizado por Paulo Gracindo. Mas se a figura pública só se fez mais proeminentemente em meados dos anos 50, a voz e o modo de cantar já o apontavam desde o começo. Há uma ternura na voz de Jorge Veiga, uma ternura marota que o associa a Mário Reis. Econômico na prosódia, sem excessos interpretativos, Veiga flutuava pelo ritmo com um gingado tão soberbo quanto discreto. “Café soçaite” é a canção perfeita para essa voz sem floreios, empática em sua simplicidade e malandra menos pelo tom do que pela execução sinuosa das sílabas e das palavras. A letra, do grande Miguel Gustavo, é um primor. É de cabo a rabo uma zombaria das colunas sociais da época, citando nominalmente Ibrahim Sued e Jacinto de Thormes, usando expressões esnobes como “plebe rude” ou “gente bem” e bordões do colunismo da época (champanhota, enchanté, “dez mais elegantes”), criando com a mais alta classe um painel dos ociosos das noitadas chiques. “Troquei a luz do dia pela luz da Light” resume a enorme verve da letra. Miguel Gustavo, outro esquecido dos nossos tempos, é compositor dos sambas “de filmes” de Moreira da Silva (“O Rei do Gatilho”, “O Último dos Moicanos”, “Morenguera Contra 007″) e de inúmeros jingles, além de ter fincado o pé definitivamente no imaginário brasileiro ao compor “Pra Frente Brasil”, a música que tornou-se hino do tricampeonato na Copa do Mundo de 1970. Em “Café soçaite”, a prodigiosa reunião de uma voz e uma caneta que sabiam articular refinamento com malandragem criou um dos clássicos atemporais da música brasileira, e, aos olhos de hoje, criou um polaroid perfeito de uma época, exibindo ao mesmo tempo o “status quo” e sua crítica. Como é que pode? Depois eles contam…
Texto de Ruy Gardnier, extraído de https://camarilhadosquatro.wordpress.com
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Este samba é uma bem-humorada sátira ao café soçaite e ao colunismo social carioca dos anos cinquenta. Em seus versos, Miguel Gustavo registra personagens (“Teresas”, “Dolores”, “Didu”), lugares (“Riverside”, “Cabo Frio”) e expressões (“enchenté”, “champanhota”, “estou acontecendo”) frequentes nas colunas dos jornalistas Ibrahim Sued e Jacinto de Thormes, também citados.
Tudo isso é cantado por um falso grã-fino que, perguntado como consegue se manter nas altas rodas, responde: “Depois eu conto…”. “Café Soçaite” teve como melhor intérprete o seu lançador Jorge Veiga, “O Caricaturista do Samba” (ouça adiante!).
Extraído de http://cifrantiga3.blogspot.com.br
Jorge Veiga(1955)
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