Camisa amarela
Tal como “Camisa listrada”, “Camisa amarela” é uma curiosa crônica de um episódio carnavalesco carioca. Na letra, uma das melhores de Ary Barroso, a protagonista narra as proezas do amante folião, que volta sempre aos seus braços, “passada a brincadeira”.
Procurando dar uma impressão de realidade à história, Ari chega a localizá-la no tempo e no espaço, com a citação de músicas do carnaval de 39 – “Florisbela” e “A jardineira” – e lugares do Rio – o Largo da Lapa, a Avenida (Rio Branco) e a Galeria (Cruzeiro).
Entregue no disco de estreia à sua intérprete ideal, Araci de Almeida (ouça adiante!), “Camisa amarela” tem ainda uma gravação notável do próprio Ary Barroso, cantando e se acompanhando ao piano, em 1956 (Confira em ‘O tempo não apagou’).
Extraído de http://cifrantiga3.blogspot.com.br
Aracy de Almeida & Conjunto Regional RCA Victor(1939)
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“Camisa amarela” corria o risco de se tornar um sucesso datado, pois faz referências a duas músicas da época em que foi gravada, por sinal , dois clássicos do carnaval de todos os tempos: “A jardineira” e “Florisbela”, sucessos que se tornaram históricos na voz de Orlando Silva.
Além disso, na sua melhor passagem, cita o “turbilhão da galeria”, que não existe mais, aquele cruzamento de ruas internas que formavam o centro do Carnaval carioca, onde os bondes da zona sul faziam o retorno que, mais tarde, com o desaparecimento da Galeria Cruzeiro e do Avenida Hotel , mudou-se para o ponto terminal no “Largo da Carioca”, apropriadamente chamado de “o tabuleiro da baiana”.
A canção esteve presente na trilha do filme português “O Pátio das Cantigas (1942) na voz de Maria da Graça (veja e ouça adiante!).
Extraído de http://museudacancao.blogspot.com.br/
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Neste samba de Ary, que recebeu regravação antológica da cantora Gal Costa (Confira em ‘O tempo não apagou’), o tema é o próprio carnaval, descrito e narrado pelos olhos de mulher: a amante de um folião. Com lirismo e um quê de melancolia, a mulher passa a descrever o sambista e seus instrumentos, o desfile da avenida, a via-sacra dos bares, a rebeldia e insensatez dos quatro dias de carnaval e o retorno na quarta-feira de cinzas, quando a realidade substitui a fantasia e tudo volta ao normal. Interessante notar ainda a quantidade de gírias e expressões populares trazidas para o universo poético da canção (“pedaço”, “mamado”, “chumbado”, “atravessado”) bem como a alusão a duas outras composições carnavalescas (as marchas, “Florisbela” de Nássara e Frazão e “A jardineira” de Benedito Lacerda e Humberto Porto, ambas sucessos daquele mesmo ano), além da referência implícita ao samba “Camisa listada”, de Assis Valente, sucesso do ano anterior.
Apesar de se tratar de um samba de meio de ano, lançado após o carnaval, “Camisa amarela”, de andamento mais lento do que um samba carnavalesco, ilustra de maneira inigualável o brilho, o encantamento, a dor, a alegria, a ressaca, o desengano e a magia desta grande festa brasileira.
Extraído de http://www.aochiadobrasileiro.webs.com/
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O Escorpião que escreveu a “Aquarela do Brasil”
Fernando Fernandes
Um escorpião de ferrão bem afiado. Mas, ao mesmo tempo, um eterno adolescente que se divertia fazendo o papel de bicho-papão. Brigão, vaidoso, ciumento, passional, exagerado e absolutamente genial. Assim foi Ary Barroso. Mas ao mesmo tempo ele foi também muitas outras coisas. Prepare o fôlego…
Ary Evangelista Barroso, ou, mais simplesmente, Ary Barroso, foi um dos mais bem sucedidos criadores de sucessos musicais do planeta. Basta dizer que, das vinte músicas mais tocadas e mais gravadas de todos os tempos, duas são de sua autoria. Em termos de alcance internacional, só Tom Jobim e João Gilberto chegaram tão perto. O carro-chefe de sua vasta obra é “Aquarela do Brasil”, é claro. Mas há um samba de Ary que pode ser considerado uma espécie de auto-retrato do compositor, ou pelo menos de uma faceta importante de sua personalidade. Vamos à letra:
Encontrei o meu pedaço na Avenida
de camisa amarela
Cantando a Florisbela, oi
A Florisbela
Convidei-o a voltar pra casa em minha companhia
Exibiu-me um sorriso de ironia
E desapareceu no turbilhão da Galeria.
(Camisa Amarela, samba de 1939)
Isso mesmo: Ary Barroso era, como se dizia antigamente, um sujeito da pá virada. Nascido na pequena cidade mineira de Ubá, às 3h da madrugada de 7 de novembro de 1903, tinha um Ascendente em Libra sob o qual pulsava a enorme energia de viver do Sol em Escorpião aliada a uma disposição descomunal para dividir-se entre dezenas de focos de interesse, típica da Lua em Gêmeos. Com o Sol na aquisitiva casa 2 em trígono com o Júpiter na esforçada casa 6, trabalhou incansavelmente até ser vencido pela doença, sem perder, porém, a capacidade adolescente de divertir-se e de criar um rastro de movimento em torno de si. Com cinco planetas em signos mutáveis, agitação era com ele mesmo…
Falamos em doença, e não é difícil imaginar qual poderá ter sido. Sigamos com a letra de “Camisa amarela”:
Não estava nada bom
O meu pedaço, na verdade,
Estava bem mamado
Bem chumbado, atravessado
Foi por aí cambaleando
Se acabando num cordão
Com o reco-reco na mão
Mais tarde, o encontrei num café
Zurrapa do Largo da Lapa
Folião de raça
Bebendo o quinto copo de cachaça
Voltou às sete horas da manhã
Mas só na quarta-feira
Cantando a Jardineira, oi
A Jardineira
Me pediu, ainda zonzo,
Um copo d’água com bicarbonato
O meu pedaço estava ruim de fato
Pois caiu na cama e não tirou nem o sapato
(…)
Tal como o folião que o samba descreve, Ary também era bom de copo e incansável quando se tratava de esticar a noite numa conversa de botequim ou numa roda de amigos nas boates da moda. Fazia uma espécie de ronda diária pelas casas noturnas e, numa mesma noite, podia ser visto sucessivamente em vários lugares. É lógico que não bebia cachaça, mas cerveja, nos primeiros tempos, e scotch puro, a partir dos anos cinqüenta (além de fumar três maços de cigarro por dia). É fácil entender essa rendição ao álcool pelo destaque de Netuno em Câncer, planeta mais próxima do Meio-Céu e em fechada oposição com Marte. Netuno é um dos regentes da casa 6 de Ary, que abriga o signo de Peixes, e onde também encontramos Júpiter, planeta significador do fígado e dos exageros. Este Júpiter na casa da rotina de trabalho e das doenças agudas, recebendo uma quadratura da Lua em Gêmeos, regente da 10, mostra como o próprio ambiente profissional de Ary Barroso acabou por deixá-lo mais próximo do álcool que um dia iria levá-lo à cirrose hepática.
Incansável e resistente até quase os sessenta anos (Júpiter na 6 em trígono com o Sol na 2, indicando vitalidade), Ary começou a ver sua saúde declinar a partir de 1961. Daí em diante foram várias crises e internações hospitalares, até a morte, que sobreveio numa noite de carnaval, em 9 de fevereiro de 1964. Mas voltemos à letra de “Camisa amarela”, agora em seu trecho final:
Despertou mal-humorado
Quis brigar comigo
Que perigo!
Mas não ligo
O meu pedaço me domina,
me fascina, ele é o tal
Por isso não levo a mal
Pegou a camisa
A camisa amarela
Botou fogo nela
Gosto dele assim
Passada a brincadeira
Ele é pra mim
(Meu Senhor do Bonfim!)
Esses versos caberiam muito bem na boca de Ivone Arantes Barroso, por quem Ary se apaixonou quando ela tinha apenas 13 anos e com quem se casou – para sempre – em 1930. Um homem com Netuno no Meio-Céu e com uma flanante Lua geminiana em quadratura com Júpiter não é do tipo que encerra o expediente às seis da tarde e vai direto para o aconchego do lar. A mulher que tentasse acorrentá-lo descobriria, provavelmente, como é difícil aprisionar uma bolha de sabão. Mas Ivone deve ter sido uma mulher muito especial, capaz de entender e aceitar a personalidade inquieta e os hábitos boêmios de Ary. Concedeu-lhe a liberdade necessária e nem se dava ao trabalho de trancar a porta da casa, pois sabia que ele não conseguiria encontrar o buraco da fechadura, ao chegar no meio da madrugada.
Extraído de http://www.constelar.com.br/
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No programa “Brasil Sonoro” levado ao ar no dia 24/09/2016, pela E-Paraná – 97,1 FM e 630 AM, a canção “Camisa amarela” foi por nós lembrada no quadro ‘QUAL DELAS ?’ (ouça adiante!).
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