Da cor do pecado
Lançado por Sílvio Caldas na melhor fase de sua carreira, “Da cor do pecado” é um grande samba, o melhor do reduzido repertório do compositor Bororó (Alberto de Castro Simões da Silva) (ouça adiante!).
Brejeiro, malicioso, possui uma das letras mais sensuais de nossa música popular: “Este corpo moreno / cheiroso, gostoso/ que você tem / é um corpo delgado / da cor do pecado / que faz tão bem…”.
Segundo o autor, “a musa desses versos chamava-se Felicidade, uma mulher de vida pregressa pouco recomendável”, que trabalhava em frente ao Tribunal de Justiça e lhe foi apresentada por Jaime Távora, oficial de gabinete do ministro José Américo. Iniciou-se assim um romance de vários anos em que Bororó foi responsável pela mudança de vida da moça. Mais tarde ela se casaria com um médico, tendo morrido ainda jovem em consequência de uma gripe mal curada.
De melodia e harmonia elaboradas, acima da média dos sambas da época, “Da cor do pecado” tem seu aspecto mais interessante nas modulações da primeira para a segunda parte e na volta desta para a primeira. Ainda quanto à melodia, tal como se repetiria em “Curare”, a frase final – “eu não sei bem porquê / só sinto na vida o que vem de você” – é um primor de preparação para o acorde de dominante que conduz ao tom da primeira parte.
“Da cor do pecado” permanece como um clássico, tendo regravações de artistas como Elis Regina, Nara Leão, João Gilberto, Ney Matogrosso e os instrumentistas Jacob e Luís Bonfá (Confira em ‘O tempo não apagou’).
Fontes: Instituto Moreira Salles – Acervo Musical; A Canção no Tempo – Vol. 1 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34.
Extraído de http://cifrantiga3.blogspot.com.br
Silvio Caldas(1939)
X.X.X.X.X
O veneno de Bororó
Em 31/10/2014
Autor: Paulo da Costa e Silva
Das poucas canções que Bororó fez, pelo menos duas são jóias raríssimas. “Da cor do pecado” e “Curare” foram sucesso do ano nas vozes de Sílvio Caldas e Orlando Silva, nos idos 1939 e 1941. Parcimonioso na composição, desbragado na boemia, Vinícius de Moraes o descreveu, numa crônica, como um sujeito de bigodinho que falava pelos cotovelos. Bororó tinha uns quarenta anos quando as compôs. Nos dois casos, a equação de base é simples: um narrador exalta o poder de sedução de uma mulher. Essa mulher, contudo, não é a rarefeita “Deusa da minha rua”, com seus “olhos onde a lua costuma se embriagar”, na clássica valsa também de 1939. As musas de Bororó já estão fora do arquétipo romântico de mulher que reinou em nossa cena musical até o fim dos anos 1950. Tampouco se confundem com a mulher-coitada, a mulher-eterno-perdão da “Camisa amarela” de Ary Barroso – para ficar ainda no mesmo 1939. Bororó não vai até a lua e nem desce até o chão. Prefere ficar na superfície da pele. Para ser mais exato, da pele morena. O verso que abre “Da cor do pecado” é quase um manifesto disso: “Esse corpo moreno, cheiroso e gostoso que você tem/ É um corpo delgado, da cor do pecado/ Que faz tão bem”. Numa só tacada – a primeira! – a satisfação de pelo menos quatro, dos cinco sentidos: visão (moreno), olfato (cheiroso), paladar e tato (gostoso). É o império do sensual. A audição vem depois, e vem para amenizar possíveis culpas e revelar a doce “maldade da raça”: “quando você me responde umas coisas com graça, a vergonha se esconde”. Na contramão dos amores platônicos e tristes, a cor e o prazer do pecado mundano. O gozo concreto dos sentidos.
Extraído de http://revistapiaui.estadao.com.br
X.X.X.X.X
Título tão sugestivo, “Da cor do pecado”, serviu de inspiração para outras canções. Isto você confere na página “O poder da criação”. Link abaixo:
http://qualdelas.com.br/da-cor-do-pecado/
X.X.X.X.X
Samba (ou choro) que se constituiu no maior sucesso autoral de Alberto de Castro Simões da Silva, o Bororó (Rio de Janeiro, 15/10/1898-idem, 7/6/1986). Foi imortalizado na Victor por Sílvio Caldas em 6 de julho de 1939, com lançamento em setembro do mesmo ano, sob número de disco 34485-B, matriz 33114 (confira também o lado A, “Deusa da minha rua”). “Da cor do pecado” foi regravado inúmeras vezes (confira em ‘O tempo não apagou’), e usado como tema de abertura da novela homônima da TV Globo (2004), na interpretação de Luciana Mello. Direitos fonográficos reservados à Sony Music Entertainment (Brasil) Ltda. ISRC: BRBMG-3900011.
Extraído de Samuel Machado Filho
X.X.X.X.X
No programa “Brasil sonoro” levado ao ar no dia 15/10/2016, pela E-Paraná – 97,1 FM, a canção “Da cor do pecado” foi por nós apresentada no quadro ‘QUAL DELAS ?’ (ouça adiante!).
X.X.X.X.X
A voz de Ângela Maria (cantora excepcional) é a prova (se é que ainda precisamos de provas) de que a canção que precedeu a Bossa Nova (clean e moderna) não é ruim, como certa crítica deseja pintar. Esquecida pelos livros, a fase pré Bossa Nova merece ouvidos livres.
Essa “música romântica” ainda é consumida (e muito), apesar do abandono midiático. Os retratos da dor de cotovelo e da vida no morro eram o motor da voz. Não sei se tais temas, com as adequações – de gosto, de contexto, de mercado, etc – devidas, tenham sumido. Pelo contrário.
Para Liv Sovik (no livro “Aqui ninguém é branco”), “o discurso do amor romântico frustrado, torna-se veículo de expressão de uma briga entre homens por autoridade, prestígio, dinheiro”.
Assim, uma canção como “Da cor do pecado”, de Bororó, refletia, para além de um desejo erótico, a exposição de nossas relações (brasileiras) com o corpo (da cor de canela).
Ainda para Sovik, “Ângela Maria e sua música existiam no limiar entre ser negro, ou “sapoti”, e a suspensão dessa identidade”. Ou seja, a cor dessa cidade (desse país) sou eu: Ângela Maria, com plástica para afinar o nariz.
Ângela encarna a cor do pecado: a cor que excita a libido do sujeito da canção. A voz de
Ângela dialoga com o texto da canção e com o sujeito que, estimulado pelo imaginário que afirma não existir pecado do lado debaixo do equador, se lança na descrição (deleite) da musa híbrida.
Aqui, abaixo de equador, o corpo é o dispositivo de afirmação do desejo. Um corpo queimado de sol, ardido de mar. O arranjo de “Da cor do pecado” (“Sucessos de ontem na voz de hoje”, 1956) intensifica o clima de sedução, malícia e desejo. Além de apontar nossas entranhas identitárias: a valoração do corpo da mulher negra.
Não podemos esquecer que João Gilberto (a Bossa Nova) gravou “Da cor do pecado”. Outros sentidos são destacados, outros ouvidos são afetados. Mas Ângela Maria (com seus arroubos e floreios vocais) radicaliza e ilumina expressões gestuais e afetivas mais corporais.
Extraído de http://365cancoes.blogspot.com.br
Arquivo
- novembro 2025
- setembro 2020
- agosto 2020
- julho 2020
- junho 2020
- maio 2020
- abril 2020
- março 2020
- dezembro 2018
- outubro 2018
- setembro 2018
- agosto 2018
- julho 2018
- junho 2018
- maio 2018
- abril 2018
- março 2018
- fevereiro 2018
- janeiro 2018
- dezembro 2017
- novembro 2017
- outubro 2017
- setembro 2017
- agosto 2017
- julho 2017
- junho 2017
- maio 2017
- abril 2017
- março 2017
- fevereiro 2017
- janeiro 2017
- dezembro 2016
- novembro 2016
- outubro 2016
- setembro 2016
- agosto 2016
- julho 2016
- junho 2016
- maio 2016
- abril 2016
- março 2016
- fevereiro 2016
- janeiro 2016
- dezembro 2015
- novembro 2015
- outubro 2015
- setembro 2015
- agosto 2015
- julho 2015
- junho 2015
- maio 2015
- abril 2015
- março 2015
- fevereiro 2015
- janeiro 2015
- dezembro 2014
- novembro 2014
- outubro 2014
- setembro 2014

