Jura secreta

Sueli Costa & Abel Silva

“Jura secreta” é uma composição de Abel Silva (1945) e Sueli Costa (1943).

Abel Silva

Mesmo tendo ocupado quartos de frente do legendário “Solar da Fossa” e, anos depois, sido vizinhos em Ipanema, Sueli Costa e Abel Silva jamais haviam feito um música juntos antes de “Jura secreta”. Foi Abel quem procurou Sueli, por meio de uma carta com uma letra da qual nasceria esta canção. Como grande parte do que se escrevia na ocasião, a letra expunha de forma metafórica reflexões sobre o amordaçamento geral imposto pela ditadura. Eram versos estranhos, aparentemente contraditórios, que afirmavam negações e negavam afirmações: “Só uma coisa me entristece/ o beijo de amor que eu não roubei/ (…)/ nada do que eu quero me suprime/ do que por não saber inda não quis/ (…)/ só o que me cega, o que me faz infeliz/ é o brilho do olhar que não sofri/ (…)/ só uma palavra me devora/ aquela que o coração não diz…” Nestes dois últimos versos, o âmago do poema, Abel na se referia uma palavra específica, mas ao (não) uso da palavra, ou seja, ao silêncio involuntário.

Sueli Costa

Lida a carta, Sueli sentiu no primeiro momento como deveria ser a melodia, compondo de estalo a terna canção, que seria levada com outras inéditas para Maria Bethânia, na época preparando o show “Pássaro da Manhã”, no Teatro da Praia. Todavia, como Bethânia optou por “Coração ateu”, gravado por ela em 75, Sueli pôde então atender Simone, que selecionava repertório para um novo disco e acabou escolhendo “Face a Face” e “Jura Secreta”.

A gravação de “Jura secreta” foi atribulada, tendo acontecido duas tentativas, uma com um grupo de músicos, a outra com dois violões, ambas frustrantes, o que deixou Simone tão perturbada que chegou a menosprezar a letra de Abel. Daí os ânimos só viriam a serenar com uma intervenção de Gozaguinha, seguida da sugestão de Sueli, para que a cantora gravasse apenas com o teclado de Gilson Peranzzetta, que criaria para a composição um acompanhamento bluesy ao piano Fender. Logo na primeira tentativa, Simone chegou a se engasgar de emoção, prevalecendo a segunda, que acabou sendo o grande sucesso do álbum “Face a face” (Confira em ‘O tempo não apagou’).

Isso foi uma surpresa para os incrédulos compositores que sabiam ser “Jura secreta” uma dessas canções classificadas como difíceis na gíria musical. Sua leitura seria até recomendada por psiquiatras para ajudar seus pacientes no processo de auto conhecimento. Tempos depois do lançamento, Simone daria o recado a Sueli que se tivesse composto “Jura secreta” trocaria o título para “Auto retrato”.

Entre as gravações desta canção destacam-se as da autora, no elepê Louça fina (ouça adiante!) e a de Fagner, em “Quem viver, chorará”, além da de Simone, naturalmente.

“Jura secreta” esteve presente na trilha sonora das novelas: “Memórias de amor” (Simone / 1979), “Da Cor do Pecado” (Zélia Duncan / 2004)
Fonte: A canção no tempo(Jairo Severiano e Zuza Homem de Melo)

Extraído de http://museudacancao.blogspot.com.br/

Sueli Costa(1979)

 

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Os poetas conseguem expressar os sentimentos humanos de forma singular, e suas manifestações literárias ganham mais beleza quando colocadas em melodias conseguem tocar as emoções. A letra “Jura secreta” tem essa característica. Ela expõe o lamento, de alguém por não ter vivido como acha que deveria, os desejos que se revelaram depois das oportunidades passadas. Demonstra arrependimento por ter sido tímido, inibido, ou talvez, se curvado a repressões que o impediram de realizar vontades não evidenciadas no momento certo. Tem como compositores Suely Costa e Abel Silva e foi lançada em 1977.

“Só uma coisa me entristece/O beijo de amor que não roubei/A jura secreta que não fiz/A briga de amor que não causei”. O “eu lírico” só agora percebe o quanto deixou de fazer coisas que teriam lhe dado prazer. Deixou de experimentar instantes de puro enlevo num relacionamento que tinha tudo para ser pleno de felicidade.

Essa observação provoca tristeza. Por que não ousou em roubar o beijo que tanto queria? Imagina o quanto foi inseguro quando não teve coragem de dizer tudo o que seu coração mandava falar. Quem sabe se tivesse promovido uma briga os dois teriam enfim chegado a se entenderem. As reconciliações são sempre cheias de intensas declarações de amor.

“Nada do que posso me alucina/Tanto o quanto o que não fiz/Nada que eu quero me suprime/Do que por não saber ainda não quis”. Percebe que tudo o que lhe é permitido fazer perdeu o encanto, porque ainda se queixa de não ter realizado o que ansiava quando o momento era o adequado. A omissão de ontem desestimula o querer de hoje. Sente-se desmotivado para iniciativas que não tentou outrora.

“Só uma palavra me devora/Aquela que meu coração não diz/Só o que me cega, o que me faz infeliz/É o brilho do olhar que não sofri”. A consciência, da falta de ação no passado, trava qualquer sintoma de um coração que teima em se calar. A razão desse comportamento onde se sente cego, sem conseguir identificar as belezas da vida, e, por isso, concorrendo para a sua infelicidade, é não ter tido a ventura de ser alcançado pelo brilho do olhar da pessoa a quem amou.

Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA” – Rui Leitão.

Extraído de http://www.wscom.com.br/

 

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Jura Secreta

“Só uma palavra me devora,
aquela que meu coração não diz”

Amo “Jura secreta”, música interpretada por Zélia Duncan (Confira em ‘O tempo não apagou’). Entretanto, hoje ela me parece ter um sabor mais intenso e mais forte, ela atualmente descreve muito bem o que sinto e não sei colocar em palavras.
Ela fala da tristeza de um beijo que se deixou passar, como eu deixo o seu beijo passar sem forças para roubá-lo, mesmo sabendo que posso não ter outra chance.

Fala da jura de amor que tanto desejei e das palavras me faltaram na hora de admitir que eu quero. Da briga que omiti e que não provoquei, acreditando que o diálogo e a conversa poderia me levar até você. E nada, absolutamente nada do que está ao meu alcance me encanta tanto quando o que ainda não fiz, tanto quanto o que eu ainda não disse, tanto quanto o que eu ainda não tenho e desejo. Nada me encanta tanto quanto você que ainda não me tem.

‘Jura secreta’ seria a música para embalar meu dia, embalar meu romance torto, embalar meus desejos escondidos e o encontro da gente meio sem palavras.

Extraído de http://relacionamentoecotidiano.blogspot.com.br/

 

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SÓ UMA PALAVRA ME DEVORA…

É impressionante como certas coisas mexem profundamente com a gente. Pessoas, objetos, atos, música… Não importa quanto tempo passe. Torna-se um carimbo. Uma vez posto fica pra sempre registrado. Marca como ferro em brasa.

Desejo aqui falar de música. Mais uma vez a música. Esse item tem um peso fantástico, capaz de agregar à composição valores, momentos, histórias sentimentos, desejos, sonhos, ideologias… Agrega em si significados que atravessam o tempo e vai gentilmente se adequando ao que se tiver no momento.

Periodicamente vamos recuperando na memória situações destas que funcionam como um ativador de emoções construídas num dado instante e que se confirmam na hora da afirmação do desejo.
Abre-se uma janela nesse itinerário e as lembranças vêm e se reinstalam objetivando uma reforma íntima e sugerindo um desfecho ou uma vivência plena daquilo que ficou para trás e achava-se terminado.

Uma música em especial vem permeando meu universo existencial de forma insistente e contundente – “Jura secreta”. Vem ecoando em meus ouvidos num crescendo um tanto quanto perturbador. Onde quanto mais escuto, mais quero escutar.

Perguntava-me todo o tempo o que ela queria me dizer. Qual a mensagem que estava passando. Porque me tocar tão fundo agora? Fui observando o sentimento que se desenhava e vendo a letra e as diversas interpretações já feitas. Além de procurar ver o contexto social do momento.

Busquei analisá-la seguindo as pistas dos signos impressos na melodia; na letra; nas interpretações. Ela chega de início como um lamento, um choro, uma solicitação, um arroubo de um desejo não concretizado.

“Só uma coisa me entristece/o beijo de amor que eu não roubei/a jura secreta que não fiz/a briga de amor que não causei”

Isso me diz que eu e tantas outras pessoas não experienciaram isso. Não viveram esse arroubo de juventude e há uma saudade impressa no ar desse experimento passado em branco nas maneiras de se expressar da juventude tardia.

Num segundo momento entendo como uma confissão de uma dor intensa, de um sentimento desejoso de ser vivido. Mostrado em tanta expressão de insatisfação nas relações, em tanto vazio existencial, em demonstração de incompletude, em tanta busca desenfreada pelo par perfeito, pelo amor ideal. Uma busca e um medo de formar vínculos fortes e duradouros.

“Nada do que posso me alucina/tanto quanto o que eu não fiz/nada do que quero me suprime/do que por não saber ainda não quis”

Denota certa impotência, mas sugere uma busca intensa e profunda. O desafio do não vivido, que muitas vezes nos assombra feito fantasma arrastando correntes nos corredores dos nossos velhos castelos.

Então ao final, a solicitação. O pedido de desfecho de consecução do desejo. A palavra anônima, que devora, que deixa impressa na alma o mistério da busca ontológica de afirmação da existência humana, o amor, o outro.

“Só uma palavra me devora/aquela que meu coração não diz/só o que me cega, o que me faz infeliz/é o brilho do olhar que eu não sofri.”

Há uma necessidade de compartilhar, o desejo de uma alucinação consciente; uma vontade de nos suprir pelo prazer de partilhar. Experienciar o perder o chão, o estremecer das bases e a certeza talvez do retornar do mergulho interno no final. Mas embora desejos disso, sucumbimos ao medo de ser, de se deixar ir, de se permitir sentir… Só uma palavra me devora…

Extraído de http://acontescencias.blogspot.com.br/

Tags: Abel. Duncan / Fagner / Jura / secreta / Simone / Sueli /
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