Madrasta

Beto Ruschel & Renato Teixeira

A figura da madrasta foi perpetuada na literatura infantil, a partir, principalmente, para nós, dos mitemas da história da Cinderela, como a “persona no grata” que surge para assaltar o lugar da mãe e finda por infernizar a vida do enteado.

Exageros e mitos a parte, não faltam piadas e histórias que reforçam a madrasta como uma pessoa má. De fato, tomando a mãe como aquela figura essencial que canta o mundo para o filho, a madrasta atravessa essa relação: ora para o bem, ora para o mal.

O filho, que sofre com a perda (afastamento) da mãe, seja pela morte desta, seja pela separação dos pais, ou por outro motivo, muitas vezes transfere o trauma e o recalque para a madrasta, “culpando-a” pela dor.

A canção “Madrasta”, de Renato Teixeira e Beto Ruschell, abre novas possibilidades da relação madrasta-enteado. O sujeito canta a felicidade de receber a nova (e estrangeira) figura em casa: onde ela ocupará lugar central.

A forma mais sincera, no entanto, de demonstrar as boas vindas e o afeto o sujeito encontra nos versos: “Minha madrasta bem vinda na varanda, onde me escondo dos medos na paz que ofereço a você”. Ou seja, ele leva a madrasta para dentro do lugar mais secreto: a varanda – espaço seguro (esfera protetora) de onde ele pode ver a paisagem ao redor, perto e ao longe.

Cansado de andar só na vida, afinal todos nós precisamos de alguém que nos cante (e importa dizer que em nenhum momento ele se refere à ausência da mãe, o que aponta a sensibilidade diante da nova figura que chega), o sujeito se deixa amar e ama também. No “por aqui” final, o sujeito parece dizer: “entre, aqui é seu lugar”.

“Madrasta” é uma canção difícil de ser cantada: ela é toda semitonada, cantada no intervalo entre uma nota e outra. A bonita interpretação de Roberto Carlos (O inimitável, 1968) (ouça adiante!), com alongamentos vocálicos e segmentação das sílabas, redimensiona a paixão do instante em que a madrasta chega e aponta promessas de sol do novo dia.

Extraído de http://365cancoes.blogspot.com.br

Roberto Carlos(1968)

 

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A faixa “Madrasta” foi a primeira e única canção defendida em festivais pelo cantor Roberto Carlos a ser incluída em seus LP’s e que possui grande complexidade harmônica, difícil de cantar.

Extraído de https://pt.wikipedia.org

 

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Tárik de Souza: … e no ano seguinte, “Madrasta”, sua com Paulo Ruschel.

Renato Teixeira: Beto Ruschel.

Tárik de Souza: Beto Ruschel. Foi defendida pelo Roberto Carlos. Como aconteceu isso? Quem escolheu o Roberto? Foi você ou o pessoal do festival?

Renato Teixeira: Essa história também é muito boa… a gente estava com a bola toda, tinha entrado no festival. Você lembra como era… poucas vagas, muita gente.

Tárik de Souza: É. Era uma competição muito grande.

Renato Teixeira: Uma competição dura. Tinha um monte de gente conhecida e os novos. A gente fazia parte dos novos, todo mundo olhando. Quem será que tá vindo? Éramos nós. Naquela expectativa, falei: – Beto, nós precisamos de uma coisa meio chocante. Esses caras estão fazendo samba disparado. A gente podia fazer uma valsa (rsrsrs). Já vinha a conversa das referências familiares, porque a valsa não é uma coisa careta é uma coisa muito linda. Então eu queria uma valsa. O Beto fez uma valsinha. Ele tinha uma Madrasta por dentro. Vamos pegar um tema estranho para gente não cair no óbvio. Escolhemos o tema madrasta, tudo meio que pensando no festival. Eu não sei, mas acho que o Beto queria a Gal cantando e eu queria o Roberto. Fui falar com o Solano Ribeiro, o diretor do festival. Solano: – Pô, o Roberto? … e de repente deu um sinal: – Ele topa. Aí nós fomos para o Rio de Janeiro. O cara tinha acabado de ganhar o ‘Festival de San Remo’. Vendia 2 milhões de discos e ainda tinha acabado de casar com a Nice, que tinha uma filha. Agora ele era padrasto, entendeu? (rsrsrs). Enfim, criou uma situação interessante ali e a gente foi editar a música.

Tárik de Souza: Muito boa a história.

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Trecho extraído de MPBambas: Histórias e Memórias da Canção Brasileira, Volume 1

Por Tárik de Souza

 

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Roberto Carlos, de smoking, enfrentou as vaias com coragem e segurança e cantou maravilhosamente bem uma canção dificílima de Beto Ruschel, construída com harmonias complexas e dissonantes como era do gosto mais sofisticado. Roberto interpretou com emoção e precisão e valorizou uma letra apaixonada de Renato Teixeira, cheia de dubiedades amorosas. Um rapaz declarando seu amor para sua bela madrasta. Foi premiado pelo júri como melhor intérprete.

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Trecho extraído do livro “Noites tropicais: solos, improvisos e memórias musicais.

Por Nelson Motta

 

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Roberto Carlos ‘rompeu barreiras’ ao adotar Ana Paula, diz biógrafo do Rei
Luana Freitas em 16/04/2011

O autor do livro que conta a trajetória do Rei Roberto Carlos, “Roberto Carlos em detalhes”, Paulo Cesar Araújo, disse ao SRZD que a morte da filha mais velha do cantor representa um grande pesar para ele, já que “eram muito ligados”.

Apesar de Ana Paula Braga Rossi Ferreira não ser filha de sangue de Roberto Carlos, ele a registrou quando tinha apenas 3 anos de idade. Filha de sua primeira esposa Cleonice Rossi, Ana era muito mimada pelo pai adotivo e eles desenvolveram uma relação de muita proximidade, conforme disse Araújo.

“A morte de Lady Laura foi bonita no sentido de ela ter vivido tudo, morreu aos 96 anos, criou bem os filhos. Mas agora é diferente. Os pais não estão preparados para enterrar os filhos”, disse, relembrando a morte da mãe do Rei, há exatamente um ano.

O autor da biografia do Rei destacou que Roberto Carlos enfrentou barreiras ao se casar com Nice. Na época, havia muito preconceito em relação às mulheres que já tinham filhos e se casavam com outros homens.

“A atitude dele contribuiu para romper essas barreiras. A forma como ele tratou a Ana Paula desde o início mostrava que ele queria ser bem aceito por ela”, disse.

Araújo contou que Roberto Carlos gravou a música “Madrasta”, em 1968, cuja composição é de Renato Teixeira (autor de “Romaria”), retratando a situação que vivia com o registro de Ana Paula como sua filha. Em 1972, ele gravou a canção “Quando as crianças saem de férias”, dedicada aos filhos. Dez anos depois, quando já estava separado de Nice, o Rei gravou a música “Fim de semana”, também em homenagem aos filhos, já que os encontrava nos fins de semana.

O autor ainda lembrou que Ana Paula sempre estava presente nos especiais gravados por Roberto Carlos. E definiu como o Rei vai conseguir vencer mais um momento de muita dor em sua vida pessoal.

“O Roberto, como um homem de fé, vai superar. Ele sabe que a fé tem essa vantagem”.

Extraído de http://www2.sidneyrezende.com

 

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“ROBERTO CARLOS EM DETALHES” – PAULO CÉSAR DE ARAÚJO – PARTE 73

Mas no festival de 1968 ele ousou mais, porque concordou em defender uma canção inusitada: “Madrasta”. Dessa vez, nem rock nem samba, o rei da Jovem Guarda se apresentou cantando uma valsa lenta antifestival composta por Beto Ruschel e Renato Teixeira.

Roberto Carlos se identificou tanto com “Madrasta” que, de todas as canções que defendeu em festivais, tanto no Brasil como em San Remo, foi a única que incluiu em seu LP de fim de ano.

“Madrasta era uma música dificílima de cantar, com uma harmonia diferente e uma letra esquisita. Todo mundo da Bossa Nova ficou impressionadíssimo com a maneira como Roberto defendeu essa música no festival”, afirma Nelson Motta.

No momento em que os apresentadores da TV Record iam anunciar o resultado final, Roberto Carlos pegou Beto Ruschel e Renato Teixeira pelo braço e os levou para a boca do palco. “Fiquem aqui que vocês vão entrar comigo”, disse-lhes o cantor, certo de que a música estaria entre as primeiras colocadas. “Madrasta” não estava incluída.

“Ele foi embora revoltado, puto da vida”, lembra Renato Teixeira.

E dali Roberto Carlos saiu para nunca mais disputar um festival de música no Brasil.

Extraído de http://www.prasemprerobertocarlos.com.br

Tags: madrasta / Roberto / Ruschel / teixeira /
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