O sol nasceu prá todos
Mário Reis estupefato com os arranjos que Pixinguinha fez para “Ride, palhaço”, marcha de autoria de Lamartine Babo, feita especialmente para ele gravar, conclui pela milésima vez, Pixinguinha é um gênio!!!, mas era preciso definir o outro lado do disco. O carnaval de 1934 era o alvo de Mário. Ainda com os sons da “Orquestra Diabos do Céo” na cabeça, ao passar pelo “Nice” avista Lamartine em uma mesa de canto, e ao mesmo tempo Noel Rosa do lado de fora, filosofando encostado em um poste alheio ao mundo que passa, eis que surge a ideia, uma boa comidinha e muitas Cascatinhas resolverão meu problema. Noel, Lalá, preciso falar com vocês, vamos jantar la em casa? Convite mais que aceito, pois os dois sabiam que na arte de bem recepcionar amigos Mário era craque! No Caminho para a rua Afonso Penna, Mário explica tudo aos dois, e lança ali um desafio: quero que vocês dois façam um samba para completar o disco que hei de gravar na Victor, e que façam hoje mesmo! Senão mestre Pixinga não terá tempo de escrever a orquestração, precisamos gravar logo! Ao chegar na casa de Mário, Lalá pergunta: Como você quer o samba Mário? Em tom maior ou menor, Mário: quero um samba nostálgico, bem no clima de “Ride, palhaço”, tom menor portanto!. Lalá começa a batucar na mesa de vidro enquanto Noel tira acordes do violão de Mário, que no início até dá uns palpites na construção da melodia mas depois fica imóvel, em silêncio, música e letra da primeira parte ficam prontas em minutos, então Mário propõe, muito bem, agora cada um dos senhores faz uma segunda parte, vamos ver quem é melhor! Lalá e Noel se entreolham, você primeiro Lalá, diz Noel, e Lalá…
“Deus quando inventou o mundo
Fez o sol e fez a lua
Fez o homem e a mulher
Fez o amor em um segundo
Sou o sol, você é a lua
Seja lá o que Deus quiser!”
Mário pensa: Noel se deu mal, os versos do Lalá são ótimos! Noel tira um restinho de lápis do bolso e tasca!
“E você é a triste lua
Que ilumina a minha rua
Onde mora minha dor
Mas uma lua diferente
Que é do sol independente
Com luz própria e com calor”
Entre gênios, não há perdedores!!! (ouça adiante!)
Autores: LAMARTINE BABO – NOEL ROSA (SEM CRÉDITO NO SELO DO DISCO)
Título: O SOL NASCEU PRA TODOS
Gênero: SAMBA
Intérprete: MARIO REIS
Gravadora: VICTOR
Número: 33738-B
Matriz: 65880
Data gravação: 08.11.1933
Data lançamento: JAN/1934
Extraído de Adilson Santos – “Confraria do Chiado”
Mario Reis & Orquestra Diabos do Ceu(Pixinguinha) & Coro(1933)
X.X.X.X.X.X.X.X.X
Relato de João Máximo
Mário Reis saiu de um ensaio de gravação com a Orquestra de Pixinguinha e foi apressado ao encontro de Lamartine Babo, no Café Nice. O motivo da pressa era o disco que deveria gravar na Victor para o Carnaval de 1934. Um lado estava decidido: “Ride, palhaço”, marcha de Lamartine, a mesma que acabara de ensaiar com Pixinguinha. Mas, e o outro lado? Como geralmente acontecia nos discos para carnaval, os cantores gravavam uma marcha em um dos lados e um samba no outro. A marcha já sabemos – “Ride, palhaço”.
Foi para conseguir um samba que Mário, apressado, saiu atrás e Lamartine a quem encontrou no Café Nice tomando cafezinho com Noel Rosa. Mário não teve dúvidas. Convidou os dois para uma cerveja em sua casa, na Tijuca. Motivo: um samba para completar o disco.
Lá pelas tantas, entre uma cerveja e outra, Lamartine cantou um refrão que lhe parecia muito bom. Deu a impressão de tê-lo impressionado ali mesmo, na hora, com a ajuda de Noel. Mas é bem possível que ele já tivesse esboçado música e letra. Os últimos versos diziam: “o sol nasceu para todos / a esmola de um olhar? / o sol nasceu para todos / também quero aproveitar”.
Diante do fato de estar presença dos dois maiores letristas da música carioca, Mário lançou-lhe um desafio: Que cada qual, Lamartine e Noel, fizessem uma segunda parte. Ele, Mário, gravaria a melhor.
Desafio feito o cantor saiu da sala. Ao voltar um tempo depois Mário encontrou as duas segundas partes prontas. Como tinham que ser, os versos não fugia do mote proposto pelo esboço de Lamartine.
Eis a segunda parte do próprio Lamartine:
“Deus quando inventou o mundo,
Fez o sol e fez a lua,
Fez o homem e a mulher,
Fez o amor em um segundo,
Sou o sol, você é a lua,
Seja lá o que Deus quiser!”
A segunda de Noel:
“E você é a triste Lua
Que ilumina a minha rua,
Onde mora a minha dor.
Mas uma Lua diferente,
Que é do Sol independente,
Com luz própria e calor.”
Para os dois amigos Mário disse que o desafio terminou empatado e que, certamente, gravaria as duas segundas partes, do outro lado de “Ride, palhaço”, como de fato fez.
Anos depois, porém, numa série de entrevistas que me concedeu por telefone, Mário Reis admitiria que Noel Rosa, cujo nome não consta no disco foi, em sua opinião, o verdadeiro vencedor do desafio. Quem mais (observou Mário) seria capaz de misturar amor e cosmografia em letra de música.
Extraído de Laura Macedo em http://blogln.ning.com
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