Palco
“Eu estava havia três dias pensando em parar de cantar; em deixar a sequência profissional de discos e shows. Estava prestes a tomar essa decisão – e avisar todo mundo -, mas não por uma razão que tivesse a ver com cantar, que é a coisa que mais me encanta na vida. Minha sensação era de fastio; eu queria era um elemento que me trouxesse um novo ânimo. ‘Se eu vou parar mesmo’, pensei, ‘eu tenho que fazer uma declaração pública, e essa declaração tem de ser musical.’ Aí eu fiz “Palco”, uma canção que era na verdade pra não deixar dúvida a respeito de tudo o que cantar representa para mim, e a respeito da minha relação com a música – simbolizada de forma completa pelo estar no palco.”
De que fala “Palco” (“o primeiro afoxé forte”) – “De um espaço semi-sagrado; da sua função exorcizante, catártica, clínica – daí o refrão (na hora em que compus, eu me lembrava muito do pouco que sabia sobre as tragédias gregas, o palco grego, Dionísios).
“De um sacerdócio; da capacidade de administrar um ritual – o da música em funcionamento, cumprindo seus ditames; de como eu me vejo nesse papel, como eu fantasio a minha visão e como eu vejo essas fantasias do meu próprio olhar.
“Do aspecto transmutador da música para mim no palco: de como estar ali faz provavelmente desaparecer uma opacidade natural do caráter bruto das coisas comuns sem sabores especiais do cotidiano, e como o haver ali sabores especiais em tudo me dá um aspecto de transfiguração – daí a ideia de que ali se propicia que alguém veja minha aura.”
Compor e cantar – “Duas dimensões e dois retornos diferentes à alma. Compor é motivo de extraordinário, transcendental orgulho pela vida, o de fazer parte do universo da criação; cantar é motivo de vaidade. É muito envaidecedor estar num palco e produzir prazer instantaneamente para todos – uma afirmação anímica de vida da música através das energias dos corpos humanos ao vivo. No palco, além de diversão, a sensação é de doação, de benfeitoria do homem para o homem. Já o momento da composição é solitário, individual, e, ao se esgotar, daí por diante é como se a música partisse para o mundo, como um filho. Cantar é reabraçar os filhos, reuni-los de novo ao seu corpo, fazê-los parte do seu corpo.”
“Cântaro = cantar o” – “Quando eu digo ‘cantar o’, eu digo de novo ‘cântaro’. Mais do que rima, é recomposição: a palavra ‘cântaro’ é reconstituída, como se tivessem embutido ali o cântaro. Muitas pessoas não devem nem perceber o ‘cantar o’; na audição deve prevalecer ‘cântaro’ mesmo.”
Extraído de http://www.gilbertogil.com.br/
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Composição de Gilberto Gil, das mais conhecidas e apreciadas em sua obra musical. Foi lançada em 1980 pelo grupo ‘A Cor do Som’, no LP “Transe total” (WEA/Warner), sendo também lado A do compacto simples de selo Elektra n. BR-12070 (ouça adiante!). O sucesso foi confirmado e aumentado pela gravação do próprio Gil, um ano depois (confira em ‘O tempo não apagou’). Direitos fonográficos reservados à Warner Music Brasil Ltda., uma empresa Warner Music Group.
Extraído de Samuel Machado Filho
A Cor do Som(1980)
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Gilberto Gil confessa no livro ‘Todas as letras’: “Eu estava havia três dias pensando em parar de cantar; em deixar a sequência profissional de discos e shows. (…) Minha sensação era de fastio.” Então, achou que deveria comunicar essa decisão ao seu público e que a comunicação só poderia ser feita por meio de uma canção. Assim nasceu “Palco”, uma composição a respeito do que o ato de cantar representava para ele e de toda a sua “relação com a música”: “Subo neste palco / minha alma cheira a talco / como bumbum de bebê, de bebê / minha aura clara / só quem é clarividente pode ver / pode ver…”
Musicalmente, “Palco” se estrutura sobre uma introdução muito atraente, talvez composta depois de a música pronta, que aos poucos se tornaria o toque de preparação para o segmento dançante no final dos shows do Gil. Seguem-se uma primeira parte repetida (A), a segunda (B) (“Fogo eterno para afugentar…”) e um arremate (C) (“Lalaiá…”), ou seja, quatro ideias melódicas encadeadas, numa demonstração de fartura de temas, o que só pode ocorrer a um compositor prolífico como Gilberto Gil.
Sua gravação no elepê Luar, de março de 81 — que, aliás, seria recebido friamente pela crítica — não foi a primeira de “Palco”. Um ano antes, o grupo ‘A Cor do Som’ (Mu, Dadi, Ari, Gustavo e Armandinho) já a havia gravado no disco ‘Transe total’, sem a introdução mencionada (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
Extraído de http://cifrantiga3.blogspot.com.br/
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