Tive, sim
Composto na década de 1960, “Tive, sim” seria uma resposta de Cartola aos ciúmes de sua companheira, Dona Zica, onde o sambista abria seu coração, referindo-se a Donária, seu amor do passado. “Tive, sim, outro grande amor antes do teu(…) mas compará-lo ao teu amor seria o fim/ e vou calar, pois não pretendo, amor, te magoar”.
Em 1968, organizadores sugeriram convidar Cartola para a “I Bienal do Samba”, em São Paulo. A pedido de Flávio Porto (o “Fifuca”, irmão de Sérgio Porto), o jornalista Arley Pereira foi ao Morro da Mangueira, Rio de Janeiro, para fazer o convite ao sambista. Lá, ouviu Cartola cantar três sambas inéditos para que escolhesse um, e o escolhido foi “Tive, sim”, que seria interpretado por Ciro Monteiro (ouça adiante!). Durante o Festival, esse samba foi vaiado pelo público presente no Teatro Record. Mesmo assim, conquistou o quinto lugar, o que garantiu a Cartola um prêmio de 2 mil cruzeiros novos – o segundo maior de sua vida até então.
Extraído de https://pt.wikipedia.org
Cyro Monteiro(1968)
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Eu acho interessante essa ideia de contar curiosidades, fatos ou a historia do nascimento dos nossos queridos sambas e choros. Aumenta a “cultura” principalmente dos frescos nesse mundo do samba e choro, como eu. E acho que, também, é um bom exercício de memória para os mais antigos.
Então, prá começar vou mandar a história de um samba do Cartola que eu acho lindíssimo, “Tive, sim” do disco Cartola(74). Achei essa história num artigo escrito pelo Aldir Blanc sobre os 90 anos do Cartola.
“No politicamente incorreto “Tive, sim”, Cartola reconhece que amou outra mulher tanto quanto a atual, que vivia contente ao lado dela, mas que prefere calar. Conversei sobre esse samba com Dona Zica, que me contou, entre risadas, com grande simplicidade:
– Eu estava afim de arengar e ele quieto. Eu, criando caso de graça: tá pensando em outra? Ele lá, calado. Chacoalhei tanto que ele respondeu: “tive outros amores antes do teu, sim. E não quero mais falar nisso pra não te magoar”. Na madrugada seguinte, meu filho, nasceu o samba “Tive, sim”.
Joao Porto
Extraído de http://www.samba-choro.com.br
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No disco ‘Estação melodia’ (2009), Luiz Melodia revisita sambas que marcaram (essencialmente) os anos 30, 40, 50 e 60. O resultado é uma seleção de encher os ouvidos. Melodia põe sua verve de intérprete a serviço da palavra cantada de outros compositores, usando o samba como parceiro e meta, sem intervenções melódicas modernas. Aliás, a sonoridade do disco remete o ouvinte ao período tematizado.
Há apenas a voz e a palavra cantada pelo samba. E é aqui que reside o aspecto singular do disco: a gestualidade precisa de Luiz Melodia, que faz de cada canção revisitada algo que soa contemporâneo. Como Augusto de Campos já afirmou: “o antigo que foi novo é tão novo como o mais novo novo”.
A canção “Tive, sim”, de Cartola, abre o disco e mostra um Melodia de voz sempre limpa deixando o sujeito algo translúcido para o ouvinte (Confira em ‘O tempo não apagou’). O samba de Cartola é cruel, perverso até, pois abre caminho para um assujeitamento do outro para quem a mensagem é dirigida.
Em “Tive, sim” o sujeito ao encontrar um novo amor, além de compará-lo com o ex amor, deixa claro (apesar das forjadas reticências) que o ex era melhor. Mais sincero impossível.
De fato, o sujeito deixa entrever sua mágoa com a vida: as feridas que nunca cicatrizam e nos tornam infelizmente imunes ao amor. Ressentido, o sujeito parece querer magoar antes de ser magoado. Afinal, não sabemos o motivo do amor incomparavelmente melhor do passado terminar: a morte do outro, justificando a mágoa com a vida? ou a morte do amor, explicando os receios da entrega total de agora?
Luiz Melodia canta com a ironia correta a comparação amorosa de quem apesar de não desdenhar magoa o outro; quer investigar os sentimentos do outro. O silêncio – “Eu vou calar pois não pretendo amor te magoar” – do sujeito fere mais do que o canto. Cantando, bem ou mal, ele se revela. Em silêncio, ele deixa o outro perdido e infinitamente seu: preso à canção.
Extraído de http://365cancoes.blogspot.com.br
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