Tristeza
Histórias do Lobo: ‘Tristeza’, em depoimento de Niltinho
O samba “Tristeza” foi lançado primeiro no bloco “Foliões de Botafogo”, que ensaiava ali na Amendoeira, como a gente chamava o terreno que existia na esquina da Rua Visconde Silva com Real Grandeza. Foi lá que cantei pela primeira vez, na versão original (veja e ouça adiante!), maior do que o samba que hoje todo mundo conhece. Foi em 1963, ano seguinte ao meu casamento com Neuza Maria, minha esposa há 51 anos, mãe do meu filho e avó de nossos quatro netos.
O curioso é que ele foi feito depois de uma briga com ela, quando a gente ainda namorava. Eu tinha ficado amuado com a briga, todo arriado pelos cantos, e aquilo chamou a atenção de um amigo meu, o Carlinhos, jornalista da “Última Hora”, afinal eu era fui um cara extrovertido, alto astral. Contei pra ele o que tinha acontecido e ele me respondeu: “Ô, rapaz! Manda essa tristeza embora!” Aquilo ficou na minha cabeça e depois foi tomando jeito de samba.
Passei a cantar “Tristeza” tanto no “Foliões de Botafogo” quanto na “São Clemente”, escola do bairro, onde o samba também pegou. Entrou pro repertório no carnaval de Botafogo e o pessoal passou a cantar. Em 63, 64… Até que, em 1965, o “Foliões” foi se apresentar no “Carioca Esporte Clube”, no Jardim Botânico, e o Haroldo Lobo gostou do samba. “De quem é esse samba?” Um amigo nosso, o Baleia, respondeu: “É do Nilton.” Ele quis conhecer o tal escurinho que tinha feito aquele samba.
Marcamos de nos encontrar por ali mesmo, isso em meados de 65, quando ele me disse: “O samba é bonito, mas está muito grande. Tem que enxugar isso.” Eu não sabia que ele era ele, mas logo fui saber a quantidade de coisas lindas que ele tinha feito para o carnaval. Me perguntou se podia mexer no samba e claro que aceitei. E a contribuição dele foi o máximo: modificou a letra quase toda, mantendo a melodia e o “lalaiá”, que já era o grande momento do “Tristeza” original. Até hoje acendo velas para Haroldo Lobo. Mesmo com os outros sucessos que fiz no samba, se não fosse esse encontro com ele, eu não seria Niltinho Tristeza.
Mas ele nunca ouviu o nosso samba gravado. Morreu pouco mais de um mês antes da gravação, feita na RGE pelo Ary Cordovil, entre agosto e setembro de 65 (ouça adiante!). Imagine! Não conheceu o maior sucesso da carreira dele. E um sucesso que contou com uma passagem triste na história do Rio, que foram as enchentes que destruíram a cidade depois do temporal de 20 de janeiro de 66. Era dia de São Sebastião e o prefeito Negrão de Lima tinha suspendido o feriado. A chuva e tragédia derrubaram o astral das pessoas e por pouco não teve carnaval naquele ano. Tristeza vinha tocando no rádio e caiu como uma luva naquele momento triste dos cariocas.
Logo depois, veio a gravação do Jair Rodrigues e foi um estouro (Confira em ‘Qual Delas?’). E aí todo mundo gravou: Zimbo Trio, Elis Regina, Elizeth Cardoso… Depois foi pra outros países, com versões em inglês, francês, italiano, espanhol, alemão, hebraico, japonês… Já foi regravada em 35 países! E, segundo a editora Fermata do Brasil, são mais de 500 regravações até os dias de hoje, por cantores como Luiz Melodia, Jorge Aragão, Diogo Nogueira, Soraya Ravenle, Roberta Sá… Um samba que não sai do imaginário das pessoas.
Por isso levanto as mãos pro céu por ter cruzado o meu caminho com o de Haroldo Lobo, parceiro fundamental para o sucesso do samba que eu tinha feito bonito e que ele deixou melhor ainda.
Texto escrito a partir do depoimento do compositor Nilton de Souza, o Niltinho Tristeza.
Extraído de http://concursodemarchinhas.blogspot.com.br/
https://www.youtube.com/watch?v=MUgiUve-2tk
Ari Cordovil & Coro(1965)
X.X.X.X.X.X.X.X.X
Último samba de estilo tradicional a vencer no carnaval, “Tristeza” foi também o último sucesso, aliás póstumo, de Haroldo Lobo (morto em julho de 65), um dos mais férteis e premiados compositores carnavalescos. Originalmente um extenso samba do então iniciante Niltinho (Nilton de Souza), “Tristeza” seria remontado por Haroldo, que lhe deu o toque profissional, reduzindo-lhe o tamanho e enxertando-lhe alguns compassos de uma antiga melodia de sua autoria.
Daí resultou um belo samba, ao mesmo tempo vibrante e sentimental, que o povo consagrou: “Tristeza / por favor vai embora / minha alma que chora / está vendo o meu fim…” Lançado por Ari Cordovil, teria a sua gravação marcante na interpretação registrada ao vivo por Jair Rodrigues, no já citado programa “O Fino da Bossa”. Essa gravação antecederia dezenas de outras, inclusive no exterior, onde “Tristeza” ganhou uma versão em inglês, de Norman Gimbel, com o título de “Goodbye sadness”. Seu sucesso foi tão grande que Niltinho passou a ser chamado de Niltinho Tristeza (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
Extraído de http://cifrantiga3.blogspot.com.br
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